(O texto também é grande mas deixa de ser preguiçoso e leia até o fim… :) )
Outro dia tive mais uma das muitas conversas sobre “palavrão”. É engraçado como esse tema tem tomado o lugar da velha discussão sobre “pode ou não pode ouvir música secular”.
É engraçado porque o que move essas discussões quase nunca são de fato o cerne delas mesmas. Sobre música a discussão não é realmente sobre “se pode ou não”… mas sim “ se a igreja está disposta a abrir mão da tradição” e checar as escrituras pra ver se sua posição está correta. Confesso que nunca jamais vi na bíblia qualquer passagem que desse guarida para a firmação sobre não poder ouvir ou tocar” músicas não cristãs”.
Por outro lado, em relação ao “palavrão”, tenho estudado e pensado nas várias passagens bíblicas que dão argumentos sensatos sobre o fato de não abrir a boca para falar bobagem. Com isso quero dizer que sou contra “falar bobagens”.
Entretanto a grande questão aqui, mais uma vez, não é usar ou não usar essas palavras. Mas sim se isso afeta o que algumas pessoas preservam com o seu Evangelho ou sua Igreja.
Falo isso tranquilamente me baseando nas conversas que tive. Algumas pessoas se põe contra usar tais palavras, já outras as usam as vezes até sem moderação. Normalmente em ambos os casos são pontos pessoais que motivam suas posições. Podem até serem influenciadas pela religião mas são pontos de vista pessoais em torno da questão.
Uma das primeiras coisas que se diz (os que são contra) é que isso escandaliza e nós não devemos escandalizar os irmãos. Sim de fato, esse é um ponto importante. Mas se vermos pelo lado revolucionário de Jesus, temos algumas situações onde Ele se tornou escândalo para os judeus por se sentar com pecadores, ou colher espigas no sábado ou tocar leprosos entre outras coisas. Isso tudo foi tão forte que os judeus quiseram matá-lo desde o começo. Portanto, sobre escandalizar irmãos, vejo que, os que são mais sensatos podem não concordar com certas posturas mas jamais deixam de dialogar enquanto outros se tornam juízes do próxima e condenam tais e tais posições não sendo eles mesmo dignos que fazê-lo. Nesse caso, o dito “palavrão tem uma função muito clara de mostrar quem realmente ama o pecador e quem realmente ama a religião.
Outra crítica contra o ato de falar um “palavrão” é que, não devemos usar “palavras torpes” e de baixo calão. O que, convenhamos é um argumento de bom tamanho. Porém perde totalmente sua força por três razões óbvias:
-Primeiro: no dicionário a palavra TORPE se define assim: Impudico; obsceno, sórdido;infame, ignóbil, interesseiro, nojento,impuro, sujo, manchado, desonesto. Outra versão ainda diz: Que entorpece, acompanhado de entorpecimento, em que há torpor; entorpecido, que não tem movimentos livres, falta de habilidade e destreza.
Notem que eu deixei em negrito alguns sinônimos para que a gente pudesse olhá-los e quem sabe percebermos o quanto eles se parecem com a “igreja” de um modo geral, desde de sempre. Se a igreja de Cristo era pra ser uma embaixada de Reino dos Céus, com certeza não estava no projeto inicial o desejo de ligar esses sinôminos à ela. Infelizmente, mesmo com as cartas para os Efésios, essa é parte da nossa realidade. Então é hipocrisia querer atacar o uso do palavrão partindo da idéia de ser palavra torpe.
- Em segundo lugar: no contexto de igreja, a torpeza também possui a idéia de palavras com duplo sentido ou uma comunicação corrompida e ainda dizer uma palavra mas não levá-la a sério, ou seja, aparenta ser uma coisa quando na verdade é outra. Infelizmente na igreja temos muito dessas coisas. Pessoas que se comprometem com coisas que jamais farão. Pessoas que oram em voz alta em “espírito de santidade” na frente da igreja e em casa agem em “espírito de porco. Gente julgando e medindo pessoas, evitando pessoas, evitando relacionamento com fulano. Ou ainda se arrastando pra ir na igreja, sem vontade de cantar ou orar, chegando atrasado para evitar o momento do dízimo ou saindo mais cedo para ir a uma festa. São exemplos verdadeiros que, na minha opinião, devem ofender muito Deus. Com isso, todo escândalo da igreja, promovido por um palavrão, fica pequeno ante o escândalo sobre a verdade de quem julga.
- Finalmente em terceiro: todo barbárie que há no mundo, fome, pessoas morrendo em depressão, se afundando em drogas, sexo sujo, mendigos na porta da igreja e viciados fumando crack, mulheres com recém nascido no colo pedindo esmolas nos sinais, velhos apodrecendo nas filas do hospital público, governos corruptos, guerras, pais matando filhos e filhos matando pais, terremotos, desastres em morros, favelas, gente suja, gente zumbi, sem dente, desmatação desenfreada, animais em extinção, consumo alucinado de toda e qualquer porcaria… enfim..todas essas coisas dignas de escândalo, cuja única coisa que me vem a cabeça é dizer “QUE MERDA!!” e QUE MERDA DE NOVO! porque você deve estar mais escandaliza com o palavrão que escrevi agora do que com as atrocidades que escrevi antes dele! Enquanto issoa igreja faz o que?! lambe suas feridas como um cão sarnento ou se enche de ouro e prata, de templos maiores e shows, luzes e toda MERDA de coisas que a igreja jamais precisou e jamais precisará pra ser igreja!
……….
Tudo isso pra dizer que algumas palavras consideradas palavrão hoje, penso eu, perderam sua raiz inicial para se tornarem expressões, pesadas porém propícias dentro da realidade que hoje cerca o mundo e a igreja nesse mundo. Não acho que falar “palavrão” deva ser algo que se faz assim, sem medida. Mas confesso que hoje, em muitas ocasiões, nenhuma palavra expressa melhor o que estou sentido do que um palavrão. (no contexto de expressão)…Pois jamais se deve usar uma palavra para machucar alguém, seja palavrão ou palavrinha. (coisa que a gente como igreja sabe fazer bem também).
O que defendo é nosso direito de expressão que denote nosso escândalo sobre todas essa coisas! Os mais conservadores podem não pensar assim e acredito que sempre haverá espaço para diferentes pensamentos e jamais haverá uma ponte se não houverem lado opostos. Porém o mesmo respeito que pede aquele conservador sobre suas convicções, nós queremos sobre nossas revoluções. Se usamos expressões pesadas num mundo caído hoje, é porque são elas que ainda mantém um diálogo entre os “santos” e os pecadores. Pois quanto mais polida e reclusa é nossa linguagem, mais difícil tem sido nosso diálogo como os “pobres diabos” abandonados às margens de seus vidas vazias. Levamos sopas aos mendigos e lhes pregamos um evangelho complexo cheio de “cordeiro, sangue e água viva” e se não houver aceitação, desistimos pois estamos interessados na quantidade de almas que levaremos à igreja e não na oportunidade de conhecer uma pessoa em sua vida miserável.
Um tempo atrás, no fim de um culto numa cidade grande, uma das pessoas que estava no culto saiu e encontrou do lado de fora alguns mendigos. Era uma noite um pouco fria e aqueles mendigo estavam ali tentando se esquentar um com papelão. Ao verem essa pessoa lhe pediram algum dinheiro, mas ele não tinha nada. Então lembrou que havia em seu carro um garrafão de vinho pela metade. Então lhes deu o garrafão, que foi muito bem recebido como um alegria única. Depois eu, essa pessoa e o pastor da igreja fomos até eles e tomamos um pouco de vinho junto com eles e ficamos um pouco ali conversando. Eles estavam felizes, em parte pelo vinho, em parte pela companhia. Tenho certeza que eles se sentiram amados. Tenho certeza que puderam sentir um pouco o amor de Jesus ali. Um pouco depois, alguns visitantes que vieram no culto, criticaram a atitude de dar vinho aos mendigos. Como bons crentes censuraram e citaram passagens bíblicas sobre não se embriagar e como devemos ser exemplos e tudo mais. Porém foi preciso que aquela pessoa os exortasse duramente para que eles, ao invés de criticarem àquela atitude, fizessem algo realmente bom, como comprarem comida ou um cobertor para os mendigos. Eu sei que um cobertor ajudaria bastante. Mas como certeza o vinho era mais que calor: era alegria, comunhão, era o corpo de Cristo aquecendo aqueles pobres homens.
Estou contando essa história apenas para dizer que sempre haverão pessoas sendo impelidas a fazer coisas que escandalizam e sempre haverão pessoas que apontarão o dedo pra criticar isso. Sempre haverá quem arrisque sua reputação por uma revolução nas idéias e quem se incomodará com isso. Se hoje, usar um “palavrão” escandaliza e incomoda a igreja, se isso serve para mexer com suas estruturas, se isso permite dialogar sobre essas coisas, então serei o primeiro a abrir a boca para proferí-los (mas uma vez como forma de expressão e jamais com a intenção direcionada de ferir alguém)… Se isto escandaliza você, saiba que seu escandâlo me escandaliza também…eu que MERDA que chegamos nesse ponto…
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